Quando se há paz no que é novo

ezeq uiel
4 min readJan 4, 2023

Conhecer a cidade é algo que às vezes me assusta, mas talvez me acalme muito mais do que outras coisas. Por muito tempo enxerguei ela como alto tão rápido, longe, distante e por vezes ofegante, que parecia escorregar das mãos.

Me senti presa quando estava no mais amplo espaço. Talvez o que acalme seja o que se vai encontrando e descobrindo, são histórias, contadas ou não. E pessoas, vistas ou não.

A avenida, por volta do meio-dia de um sábado, aqueles de fim de inferno em que o céu fica na dúvida se deveria ou não chover. Talvez ele em seu azul seja tão mais tímido do que um primeiro beijo. O que se pode encontrar em uma avenida? Lados diferentes, cada qual contando sua própria história, são casas e casas e coisas e vitrines e pessoas, que andam e param, que entram e saem. Continuei seguindo, junto aos carros que passavam em sua rapidez que pouco esperam, quase nunca. Sinto o calor da cidade.

Entre linhas e cores

Agora que paro. Boa tarde. Entrei, o lugar em que visitava me lembrava mais um baú, um baú aberto, que transborda palavras, elas em pleno silêncio, mas que diziam coisas, e já disseram tanto, para os tantos que passaram. Me convidou para observar os livros nas prateleiras, poesias, contos, histórias, memórias. Entre capas de tons terrosos e as mais coloridas texturas, esperei ali parada. A comida, em seu sabor e tom tropical, tinha entre o mais agridoce gosto e o mais amarelo tom.

Entre risadas tímidas e perguntas bobas que foram respondidas entre gestos tímidos e batucadas com os dedos do pé da mesa, a conversa seguiu.

As paredes eram esverdeadas e tinham plantas em volta de tudo, em tons verdes e amarelos.

O sol parecia agora mais forte que mais cedo, estava ali presente. A parada ali solitária me esperava para uma companhia, enquanto não seguia por minha viagem. Entrei, embora não tão agradável como antes, entre conversas dos passageiros, fui observando as ruas passarem pelo vidro da janela, o centro passa a esfriar e se acalmar com o passar do dia, o vai e vem de pessoas aos poucos vai sumindo, dando lugar apenas a prédios, praças, calçadas…

Ao fim da viagem, desci e já sentia, talvez outro ar? Senti talvez uma leve brisa que vem do mar e já balança as árvores em minha frente. Segui.

Ao meu redor

Às vezes penso, são tantas histórias a serem contadas, lugares para se ver, cheiros, gostos, texturas, sons.

Andei um pouco ao longo da praça até subir uma escada que dava espaço para um lugar, em um tom esbranquiçado e com o teto vermelho. Segui o percurso até descer algumas rampas em curva. O local era, escuro, mas já ouvia os sons que a exposição contava. Pelo som já se podia emergir em um espaço que, embora familiar, era ainda novo em seus detalhes e especificidades. As texturas, as imagens e as cores pareciam entrar e me conduzir à história. As fotografias e objetos que pareciam me levar para casas, estradas, caminhos e lugares como lares, mas onde nunca visitei.

Aos poucos fui vendo cada um dos mais diversos detalhes que se rodeavam por mim, entre labirintos de histórias e contos contados ou ainda não contados. Bati algumas fotos, sempre costumo registrar momentos, acredito que por vezes nossa memória acaba sendo muito vaga e perdemos registros tão importantes. Fotografia é como um alívio.

Ao fim, de volta as rampas em curvas e as escadarias. Segui. O dia já se encaminhava para o fim, mas o dourado do sol banhava o teto dos prédios e árvores mais altas, deixando o fim da tarde ainda mais acolhedor.

Caminhei um pouco, as ruas estavam calmas por aquela hora, mas passavam carros lentos. Entrei por uma porta grande que dava acesso a dois vastos salões, subi as escadas esverdeadas de metal. Arte. Como ela existe e faz tanto por nós, enquanto sobreviventes nessas realidades que por vezes nos sufocam?

Haviam quadros no decorrer das longas e altas paredes brancas, que me diziam tantas coisas, cores mais fortes, outras mais fracas, pinceladas e tons, me entreguei por um momento ao que contemplava, visitei, toquei, senti. O frio e o silêncio até faziam parte da dança de cores do local. Parei. De volta às escadas.

Voltei a sair e ver o sol já quase se ponto.

A onda e o rosado

Já sentia não o som, mas talvez toda leveza que as ondas costumam trazer quando comecei andar pela areia fina cor de creme que ia grudando nos meus pés até chegar mais próximo dágua. As ondas se balançavam e diziam umas às outras ronronares de calmaria. Fim de tarde. Casais se encontravam para juntos ali sentirem o cheiro do mar, sons longes de crianças ainda na água. Fim de tarde.

Sentei. As horas, como passam e não percebemos quando sentamos em frente a ele, ao mar, que tanto nos mostra seu vasto e forte azul, aos poucos vai nos penetrando.

O sol se pôs, a lua timidamente, porém sempre com a mais elegância clareza, já se mostrava plena por entre os nevoeiros leves. E surgiu, prateando o mar e as ondas, que andavam em fila, seguindo as ordens dela.

De volta para casa, enfim lugares. Cidades. Somos elas, e fazemos elas.

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ezeq uiel

breves escritas com prazo grande de postagem entre elas. perdão pra quem lê, não ofereço nada alem do que tenho sido. pré-jornalista e pseudo-que escreve.